Bem,
qual é o gosto? Tem um sabor amargo. Um amargo violento e cortante, que desce
destruindo tudo, desfazendo tudo, diluindo tudo. Quem dera diluísse também a
alma. Sim, a alma. Essa pequena que ninguém vê, ninguém sabe, só sente. E sente
mesmo, viu? Não sei quem vem primeiro, se o corpo ou a alma, mas sei quem sente
mais. E se tu me dizes que a alma não existe, te digo que pode até não existir,
mas existe algo que sente, e que dói e que muda e que se move aqui dentro e
enquanto isso existir, de alma a chamarei. Por que se não, que seria mais?
Tanto faz chamar de alma ou flor... ou até mesmo dor: a essência é a mesma, não
importa o nome.
Tem um
gosto estupidamente amargo. Não que eu nunca o tenha experimentado, mas é que
por um tempo foi suportável. Tinha uns cristais de açúcar pra pôr em cima de
quando em vez, e assim a gente levava. A gente que agora morreu, que agora sou
eu. A gente que levava embora, que lavava embora, que fingia e se ia embora. Tanto
embora que já deu. E eu aqui e ali cambaleando pelas noites e estradas, que na
madrugada fluía feito rio que na tempestade desagua no mar, que tanta
tempestade já viu passar. Só não essa.
Tem
sabor amargo e quente. Já deveria ter me acostumado, e acho que até acostumei.
Mas amargo bom mesmo só do café. Aquele café amargo que te dá vida nas
ressacas, que te acorda pro trabalho, que te anima o domingo solitário. Café
amargo e bom, daqueles amargos que te lembram que a vida não é doce. E não é
doce não. Antes fosse.
E
então, qual é o som? É um som hilário. Um silêncio tão gritante que nos corta
os ouvidos, estoura os tímpanos. É. Uma loucura que se torna melodia nas mentes
sãs e que grita pra o outro dia vir tão logo quanto faz partir.
E tu me
perguntas qual é o plano. Não faço ideia, não sei não. Me acostumar com o
amargo? Fingir que o som é agradável? Muito mainstream, já é bolado. Quero
abrir minhas asas, dançar no salão, falar com os fantasmas, cair no chão. Só não sei o que fazer com meus amigos Sol e
Dão.
Kuroi Kuroneko
30 de Agosto de 2014