sábado, 1 de junho de 2013

O legado

Estou morrendo.
Aos poucos
E a cada dia eu morro mais.

No belo dia em que a morte em sua beleza
Vir me agraciar com seu toque
Eu estarei lá
Sorrindo.

Não anseio sua visita, mas um dia
de fato
ela virá.

E neste dia não irá chover.
Não haverão corvos sobrevoando a cidade.
Ninguém irá se vestir de preto
Ninguém irá gritar como louco.

Alguns dirão "Nossa, ela era tão jovem!"
E farão uma cara triste por um momento.

Alguns perguntarão meu nome.
Poucos irão chorar
Poucos irão pensar na minha família
Poucos vão se arrepender do que me fizeram.
No primeiro dia.

Mas não se lembrarão de mim assim que o outro dia nascer
Ninguém me fará homenagens
Ninguém irá dizer "Eu era seu fã"
Ninguém irá ler as cartas que deixei, e se por ventura alguém ler,
Não saberá o por quê.

Não haverá um ser que me conhecerá.
Por que ninguém estava assistindo
Ninguém me viu aqui.

Minha mãe irá ficar chocada, e me odiará por minhas palavras se concretizarem
e alguns dias depois irá seguindo em frente.
Mulher forte ela é.
Meu pai irá ficar desconsolado, desesperado, solitário.
"Minha Filha!" - Ele irá chamar.
Mas sua filha não responderá.

Quem dos que aqui me viram, irão me ver
Quando a morte chamar?

Nenhum perfil
Nenhum legado
Nenhum estudo
Nenhum documentário
Nenhum filme
Nenhum livro
Nenhuma citação
Nenhuma memória
Eu não sou um ser eterno
Enquanto ninguém se lembrar.

Kuroi Kuroneko
~01.06.13