segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Samba-blues

Poetiza, meu bem, a minha dor
Poetiza, que é bom falar de amor.
Mas se o amor é daquele espinho em flor
Poetiza, que acaba esse rancor.

Só não chore agora, que tá azul
E se quiser ir embora, tá tudo cool 
Vou te bater no meu liquidificador
Liquidifica, meu bem, a minha dor

Me tira desse poço
Ô poço fundo, fundo poço
Estou no fundo do poço
E que desgosto: minha sede é de amar!
E pra consumar a amargura eu vou repoetizar

Poetiza, meu bem, a minha dor
Poetiza, que é bom falar de amor.
Mas se o amor é daquele espinho em flor
Poetiza, que acaba esse rancor.

Kuroi kuroneko
16.12.13


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Petro

Meu corpo é terra, é chão, é mato, é vento,
É tempo e céu
E que tempo! Que veneno cruel!
Meu corpo, que nem existe,
E se existe é só pó,
Depois de tanto tempo passado, é tão só.

Nostalgia é noite fria liquidando meus átrios,
É gelo petrificando minha seiva,
São as estrelas nos olhos de toda gente.
É um abraço calado que grita 'Oxente!'
É um pedido meigo e envergonhado
É borboleta no estômago.

E do passado, quem pode me ouvir?
E do futuro, quem pode me ver?
E do presente... Este eterno segundo que não consigo conter,
Que posso eu fazer?
A cada célula pelo tempo dilacerada
Só posso dizer que não sei mais nada.
E saber disso é saber demais.

Kuroi Kuroneko
18.11.13


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Flores da Vida

Esses dias estive pensando
Nas flores da vida que vamos plantando
E agora eu sei:
Chamei de amigo quem me nada é
Plantei árvores com trilhos no pé
Pra meu jardim decorar.

E aqueles momentos cheios de preocupação, os desabafos,
Nunca foram, nem nada mais são.
As palavras de carinho, um dia proferidas
Nunca, na verdade, foram ditas.
A diversão, o abraço apertado...
Apenas sonho, imaginação.
As pessoas ao meu redor nada mais eram do que sombras

Esses dias estive pensando
Nas flores da vida que vamos plantando
E agora eu sei que
Nada vivido, na verdade vivi
Que estou acorrentada lá e aqui
Tudo foi areia em minhas mãos

E meu jardim padece
Cinza.


Kuroi Kuroneko
23/10/13

domingo, 25 de agosto de 2013

Sabiá

Muié! Eu só me sinto só
Queria ser um laço, pra num nó
Ficar juntim de tu

Muié! De mim tu num tem dó?
Me deu uma bilôra e virei esquimó
Só pra dar beijinho em tu

Muié! Vamo fazer um fí
Deixar o mundo inteiro todo lindo
Chei dos nossos guri

Muié! Eu não sou doutô
Não te garanto viagem, carro, luxo
Mas garanto o meu amô.


Kuroi Kuroneko
25 de agosto de 2013

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Alucinógeno

Aluízio me alucina.

Eu vou andando pelo mundo,
Ele me dá uma rosa.
"Eu te darei o mundo, um dia, por enquanto é o que posso" - Ele me diz sorrindo.
Sei que é mentira, mas ainda é meu amigo,
Meu marido. Meu amor.
Ele me leva pro outro mundo
Ele banca minha droga
Traça meu futuro, cava minha cova
Ele me dá um sorriso,
Ele me dá abrigo
Ele me faz um filho,
Ele me dá amor.

Aluízio me alucina, não me deixa, por favor.

Vai sorrindo no caminho e
Me olha nos olhos
As pupilas dilatadas me mostram sua alma
E com calma ele me envolve, me envolve e me abraça
Me abaixa - "Se abaixa" - Ele grita
Não vejo saída, há tiros no céu
há tiros no céu
Há tiros no céu de sua boca.

Ele voou, ele voou
Minha fonte secou, minha rosa morreu
Meu amor,
Fui eu.


Kuroneko
05.07.13

sábado, 1 de junho de 2013

O legado

Estou morrendo.
Aos poucos
E a cada dia eu morro mais.

No belo dia em que a morte em sua beleza
Vir me agraciar com seu toque
Eu estarei lá
Sorrindo.

Não anseio sua visita, mas um dia
de fato
ela virá.

E neste dia não irá chover.
Não haverão corvos sobrevoando a cidade.
Ninguém irá se vestir de preto
Ninguém irá gritar como louco.

Alguns dirão "Nossa, ela era tão jovem!"
E farão uma cara triste por um momento.

Alguns perguntarão meu nome.
Poucos irão chorar
Poucos irão pensar na minha família
Poucos vão se arrepender do que me fizeram.
No primeiro dia.

Mas não se lembrarão de mim assim que o outro dia nascer
Ninguém me fará homenagens
Ninguém irá dizer "Eu era seu fã"
Ninguém irá ler as cartas que deixei, e se por ventura alguém ler,
Não saberá o por quê.

Não haverá um ser que me conhecerá.
Por que ninguém estava assistindo
Ninguém me viu aqui.

Minha mãe irá ficar chocada, e me odiará por minhas palavras se concretizarem
e alguns dias depois irá seguindo em frente.
Mulher forte ela é.
Meu pai irá ficar desconsolado, desesperado, solitário.
"Minha Filha!" - Ele irá chamar.
Mas sua filha não responderá.

Quem dos que aqui me viram, irão me ver
Quando a morte chamar?

Nenhum perfil
Nenhum legado
Nenhum estudo
Nenhum documentário
Nenhum filme
Nenhum livro
Nenhuma citação
Nenhuma memória
Eu não sou um ser eterno
Enquanto ninguém se lembrar.

Kuroi Kuroneko
~01.06.13

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Dia Cem.

Não mais sei o que é o amor
Não mais sei o que é amar
Não sinto prazer nem dor
Não sinto paz ao ver o mar...

Não me considero sofredor
Mas mesmo nas lembranças que trago do amor
Só o vejo me torturar
Deixava-me sempre sozinho, pra quem quisesse levar.

Eu não sei o que é o amor,
Eu não sei o que é amar
Camões tornou-se patético
Carinho, repugnante
Apego, tão intrigante
Calor, aconchego, beijinho
Tudo isso é irritante...

Cem dias se passaram, cem dias se rastejaram,
Mais rápido que um trem.
Cem dias que me ensinaram, que sozinho se vive bem.
Sem dias que ser feliz é costume meu também.

Tudo está sempre errado
Errado sempre tudo está
Tenho tudo que quero
Mas sempre outro problema há.

Tenho duvida se o Senhor
Ao criar a humanidade,
Não será que se enganou,
E pôs um erro na felicidade?
Trocou o certo pelo errado,
E assim vivemos contra verdade.

Parece até que estou triste,
Mas saiba que tristeza só existe
Onde há um coração.
E este meu amigo, eu nunca tive
E se tive, eu tive em vão.

Coração que eu saiba, bate
Coração que eu saiba, ama
Coração que eu saiba sofre
Mas também se engana.

A mente não, a mente nunca se engana
Ela mente pra ti, amigo, passando-se por coração
Fazendo-te de besta, que de besta inda se deixa enganar
Com momentos que não existem
Tornando-te um falso triste.

A mente mente,
O coração se engana,
A tristeza que não existe
No presente de que não ama.
Jazem aqui cem dias. O dia cem.

Kuroi kuroneko 
   31 de março de 2011

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nas palavras dela, eu sou eterno

Eu moro no verso da poesia dessa menina
Eu moro na casa, no corpo, na mente e nas palavras dela
E que são minhas.
Eu nasço, eu corro, eu morro, eu sorrio
É, eu sei. Eu preencho um vazio.
Eu faço tudo que ela disser, quero tudo que ela quiser
Quero que ela seja minha garota e minha mulher.

E se ela chorar, eu choro
Se ela voltar, eu volto
Se ela falar, eu ouço
Se ela brincar, eu brinco
E se ela não me quiser e for descansar, eu fico louco.

E terno, de terno eu sorrio e sei que sou eterno.
Porque ela se vai, e eu também me vou
mas é que nas palavras dela, onde leres, estou.
Daqui a um dia, daqui a mil anos
Estarei aqui e estarei com ela, no infinito estamos.

Kuroi kuroneko
21.05.13


Pra nunca mais

Me grava nos teus olhos, menina
Que agora eu me vou pra nunca mais.
E eu sei que vais me aguar,
E é bom. Só assim pra não me deixar morrer lá...
Mas, menina, não vá magoar.
Eu quero só teu bem, teu bem estar.

Me prende num abraço agora, mulher
Se não eu me vou pra nunca mais.
Não que não mais te queira, amor
Mas aqui já não consigo ter paz.
Te ver assim, solitário às sombras,
vivendo com aquele rapaz.

Me rega o jardim, e minhas flores devolve
Pois tudo que me restou foi um cinza, um breu
E aqui sem cores, eu me vou pra nunca mais
Vou viver à própria sorte
Sem ter um porto, sem ter um cais.

Kuroi kuroneko
16.05.13

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A queda

Meus passos estão mais fortes agora
O frio não me assusta mais.
Me sinto confortável quando estou só
Consigo encarar meu reflexo,
E nesse deserto isso é tudo o que tenho.

Tua alma me visitou noite passada
Foi doce comigo, e me tratou bem
Por um segundo me salvou do penhasco
Mas logo em outro, me jogou.
Tudo bem, agora eu sei que a queda livre não me mata
Talvez por que embora seja uma queda, ainda é livre...

Me jogaste do penhasco, e ainda assim agradeci.
E de toda alma lhe sou grata.
Aprendi que queda alguma me mata
E que após morrer tantas vezes, a morte venci.
E agora sigo o caminho do qual desisti.

kuroi kuroneko
    26.04.13

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O tempo

Eu sou o primeiro raio de sol
que abraça o mundo e bate à tua janela de manhã cedo
Esquento o mundo pra ti enquanto te vejo dormir mais um pouco.
Cá estou, mas tu não me vê.
Eu sou o sonho que tivestes, mas que não lembra
Foi bom, foi doce, mas foi breve.
Cá estou, mas tu não me vê.
Eu sou o vento que te refresca nos dias quentes,
O teto que te guarda em meio a chuva,
O cheiro bom de comida quando tens fome,
O arrepio na noite fria,
Eu sou a condição, e o determinante.
Cá estou mas tu não me vê.

Sou o sorriso que não destes ao vê-la
Sou o abraço de saudade que não destes ao recebê-la
Sou o beijo saudoso que não recebestes
Eu sou a lágrima que não deixaste cair
Eu sou o "eu te amo" baixinho no meio da noite
Eu sou o andar de mãos dadas
O varar de madrugadas regado à bebida e piadas
Cá estive, mas me repudiastes.

Eu sou a lembrança deixada
A imagem deturpada
A mágoa guardada
O arrependimento vil.
Eu sou o que sempre sonhaste
O presente ganhado, o qual não abriu.


~~ kuroi kuroneko
          15.04.13

terça-feira, 5 de março de 2013

Vicio

Em absinto eu mergulho
Me embebedo e festejo
Gozo de alegria, mato meu desejo.
E neste meu intervalo,
dos problemas me desfaço,das tristezas me esqueço
Vejo tudo descer pelo ralo, e me rio.

Mas em consequência do ato,
Vem Morpheus e me sufoca em abraço
E no dia seguinte marteladas na cabeça
Que vêm para relembrar as lamúrias
As tristezas, os problemas, as dores
Oh! Eu pranteio e choro!
Preciso de mais absinto,
E assim o vício começa.

Tal qual desgraçado é o absinto,
Me é tua companhia:
Me enche de felicidade,
E no dia seguinte me deixa fria.
Preciso de mais de ti,
E assim se perpetua o vicio.

Taberneiro, tenha dó de mim
Traz-me mais uma dose daquele maldito
Que me destrói e me mata
Mas ainda assim me deixa fascinada.

Kuroi Kuroneko
05.03.13


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Benditos os corações que choram

Benditos os corações que choram
E em devaneios imploram
Pela irrealidade aleatória dos sonhos vis
que no êxtase do sofrimento criam saídas insanas
Pelas vias paralelas às de ida e volta
Que escolhem o caminho só de ida
E vão.
Vão de vão em vão até encontrar uma saída
E se encontrarem, enfim,
Em si.

Kuroi Kuroneko
    18.02.13

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Tall boy

Menino alto, o que você vê daí?
Não te amedronta ter um mundo tão maior?
Menino alto, o frio não te dá calafrios?
Seu olhar sério me tomou o fôlego
Seus braços finos já não me alcançam mais...

Como, menino alto, de tão longe me encontrou?
Como sabia que era eu?
Se aqui de baixo meio à tantos outros no escuro me escondo?
Talvez seja por isso, talvez, que me esqueceu.

No mar, meu olhar perdeu
Por que viu e não entendeu
Sentiu, mas não descobriu
Quem sou eu.

Ei, menino alto, você pode me ouvir?
Estou gritando há tanto tempo
E eu não sei pra onde ir
Onde, me diga, tu vais poder me ver?
Porque olhaste nos meus olhos
e não me ouviste dizer
"Apenas não vá embora, aqui estou."

Kuroi Kuroneko
24.12.12


sábado, 5 de janeiro de 2013

Quando a noite abraça

               Era noite, e a garota de pernas e braços compridos tentava alcançar a lua. Estava ali à um punhado de areia de distância, mas ela não alcançava. Já estivera ali há tanto tempo que achava que o mundo era mesmo assim. A vista além das grades era simples: Areia por todos os lados, areia e mais nada. O clima desértico se repetia e se prolongava como se o tempo nunca passasse, e o sol escaldante abraçava  seu corpo em um calor estupefante de dia, enquanto de noite o frio deslisava e dançava dentre seus pelos arrepiados.
               Durante algum tempo ela gritou para que alguém ouvisse, mas se de fato alguém ouviu, este não ousou gastar suas energias e incomodar-se em responder. Durante algum tempo era rezou, mas descobriu que não há força maior alguma além da sua própria. E depois de algum tempo ela esqueceu do que vivera antes de chegar à este lugar. Nenhuma outra forma de vida lá havia, e sabem os deuses - se é que hão deuses em nalgum lugar - há quanto tempo estava ali.
                E todas estas palavras vieram de sua mente , como se estivesse lendo um livro o qual era o personagem principal. Mas não se trata de um livro, não se trata de um conto, não há personagens. Esta é a vida real.
               Era noite, e era se encolhia em seus próprios braços. Por um momento deixou uma lágrima escapar - Não sou escritora - pensou ela - só grito para o mundo que sou, para me sentir especial. Mas nada disso eu sou. - Então ela fecha os olhos, e sente de novo o calor de seu quarto, o conforto de sua mesa, e o prazer de ter papel e caneta em mãos, o prazer de ser dona de tantos outros mundos, o prazer de ser o deus de tantas vidas tão breves quanto o seu sorriso cálido ao se recordar de tudo isto. A brisa fria a abraça novamente, e ela dorme, desta vez, para sempre.

Kuroi kuroneko
  06.01.13


Feliz ano novo \õ\
Primeiro texto do ano 'u'

Uns beijo :***
E perdoem minha ausência :x