terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma flor, uma espada. (Duplo)

São dois textos, porém ambos estão interligados. Girando em torno de uma flor e uma espada (:

Ato I

Uma flor e uma espada.
São tudo que tenho...
E nesta estrada, longa estrada, está tudo em minhas mãos.
Era uma emboscada: Matar a flor, tirar o pólen.
Era uma emboscada: Viciou-me, seu aroma viciou-me.
E a extinção, tormento, ilusão...

Uma flor e uma espada
Doce aroma, cravado em batalha
No ser, um corte e podre odor de morte.
Nada tive, nada tenho, nada perderei...
Flor e espada, tão bela combinação
Presenteie a dor...
Meu bem, eles vão te magoar. Encontra teu canto!

Uma flor e uma espada
Um par de botas e um espelho.
Nenhum objetivo, nenhum lugar.
Mas saberei, caso chegue lá.
Ferir o semelhante, triste flor...
E seja quanto triste for, me vou.

Uma flor e uma espada
Um santo e um arco-e-flecha
Um canto, uma seresta, só pra te ganhar...
O rei já decretou, o ministro aceitou: Me vou.
Sem meu lugar, vou já.
Desesperar, vou já.
O erro voltará, vou já.
Descansar, vou já.
Matará, vou já.

É-por-ti.


Ato II

Uma flor e uma espada
São tudo que tenho, além da longa estrada.
Esta dor em meu peito,
Tristeza no olhar...
Tentei matar de todo jeito
Mas quando penso naquilo que por mera desventura
ou ventura de não ter, só me faz viver.
E viver me suga a vida,
Viver me rouba a alma
Viver me tira a calma
Viver me mata, e viver sem aquilo lá...
É tortura... Doença sem cura, pecado sem salvação, sem perdão.
Perdão.

                                                         
                                                                  Kuroneko-chan
                                                                     29/08/2011


sábado, 20 de agosto de 2011

A mais bela borboleta do universo

Era um dia cinza, eu estava por traz das grades cinzas da minha janela cinza, que dava para o meu quintal cinza. Onde lá, eu podia ver as trepadeiras intrigantes, do meu muro cinza. Estava lá: Enorme, amarela e delicada. Lá no quintal ela estava, com suas asas pomposas se mascarando no ambiente. Não, não estava na janela do quintal, nem dentre flores, nem pelas as árvores. Estava bem ali, naquele muro. Não estava à cima ou à baixo do muro, não estava nos ninhos, nem nas Samambaias. Estava bem ali, onde aponto meu indicador direito, exatamente naquele ponto, ao alcance de minhas mãos, se escondendo por entre as folhas mortas daquela trepadeira que eu não sei o nome. - Tolice! - Disse a razão, um tom arrogante - É apenas uma folha seca, presa nas outras folhas também secas e também presas, estas por sua vez, no muro.
Não, não era uma reles folha seca. Era um linda borboleta, que estava além das grades cinzas da janela cinza e além do pólen louco das flores cinzas do meu jardim. Cinza. Era uma enorme e graciosa borboleta, cujo desenho nas asas lembrava aquele céu mágico estrelado das noites de verão, com duas luas cheias e hipnotizantes. Era a mais bela borboleta do universo e veio pintar o meu jardim cinza de flores velhas e folhas secas, e cinzas. Era a mais bela borboleta do universo, e seu nome era Vida. A Vida era linda, a Vida era alegre, a Vida era radiante, a Vida voava de um jeito engraçado e único, a Vida vinha fácil, a Vida pousou em meu dedo e descansou em minhas mãos, pois era corajosa. E depois de tudo, Vida se foi... Depois de me fazer companhia, de voar pra mim e pintar meu jardim, Vida foi embora. O tempo passou, e estava na hora. Agora, ainda atrás das  grades cinzas da janela cinza, olho para o muro cinza, e vejo a Vida no mesmo lugar, imóvel. Não na janela, nem pelas flores ou pelas árvores. Está bem ali naquele muro, no exato ponto onde meu indicador direito indica, ao alcance de minhas mãos. E vida está velha e seca, vida está lá morta e presa entre as folhas também secas e mortas daquela trepadeira que não sei o nome. - Essa Vida é apenas uma folha - Repetiu a razão.
- Não, é uma borboleta, a mais bela borboleta do universo. Me deixa sonhar só mais um pouquinho...



                  Kuroneko-Chan
                       19.08.11


*No texto original, a borboleta se chamava 'Você' e não 'Vida' =B
Até que enfim um título que presta \o\

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sua falta de memória mata.

                Nos invernos, Campina Grande era sempre mais agradável. Nas férias do meio do ano, todos corriam para o litoral, e a cidade ficava deserta. Só quem ficava por lá era a turminha undergroud/neo-punk-pós-medieval-modernista [?] que costumava habitar as poucas praças concentradas no centro daquele lugar. Frequentavam esses lugares Tami Netsubasa, que era nissei, mas que odiava ser descendente de japoneses e tinha inveja das brasileiras porque achava bonita a mistura de etnias, Laura Tokoshiba, que também era nissei, filha de uma alemã e um japonês, tinha uma beleza exótica, mas achava a “beleza interior” mais importante, e por fim Renata Lima, mais conhecida como ‘renren’, que não era nada, nem nissei, mas só queria ser. Elas eram melhores amigas forever. Renata tinha um amor platônico por fulano, que por sua vez amava (também platonicamente) Ana, que tinha um amor, não platônico, mas perfeitamente reciproco e correspondido por Joãozinho. Tami gostava de festas, vodca, flores, vestidos, doces, e escutava musica pop. Laura gostava de eventos, vinho tinto, radinhos de pilha, macacões, sushi, e escutava new wave. Renren gostava de chuva, sangue, gin, cortes, frio e escutava metal. Nos fins de semana Tami e Laura costumavam sair, ir a barzinhos, ficar com alguns meninos, beijar algumas meninas, dançar, cantar, celebrar a vida. Renren ficava em casa, imaginando o que fulano estaria fazendo, e se ele gostaria de estar ali. Às vezes ficava muito triste pensando porque fulano nem parecia se importar com a existência dela, furava as veias com uma agulha, e ficava lá observando a veia inchar e o sangue escorrer. Fulano... Não importa o que fulano fazia nos fins de semana, e Ana viajava pra casa de Joãozinho. Ana sabia do amor de fulano, e até gostava um pouco dele, mas também gostava um pouco de Joãozinho, e não podia ficar com os dois. Fulano sabia do amor de Renren, mas preferia fingir que não. Renren era ForeverAlone, até apareceram alguns pretendentes, mas ela era doente por fulano. Doença: era assim que ela descrevia o que sentia por fulano, aquilo não era normal. “Só se esquece um antigo amor com um novo” – Era o que Tami e Laura sempre diziam a Renren, mas ela não conhecia mais ninguém. Ninguém conhecia mais ela. Um dia, fulano, amargurado por Ana, deu bola pra Renren, que não perdeu a oportunidade. Mas morreu de amargura porque dias depois fulano fingiu que nada tinha acontecido. No seu enterro, Tami, Laura, Ana na maior cara de pau (que na verdade só foi mesmo porque fulano estava lá), e fulano, que em meio à lagrimas nem-tão-sofridas, lembrou-se daquele dia, e em meio a um soluço e outro, bem baixinho pediu perdão - Ele apenas esqueceu.

kuroneko-chan - 11.08.11

Ficou uma bela bosta.
Mas rééé.

domingo, 7 de agosto de 2011

Estou com sérios problemas dos olhos. Grande parte desses problemas, minto. Todos estes problemas, se devem ao fato de um outro sério problema: A falta. A falta de um assunto pra puxar, a falta de um amigo pra me ouvir, a falta de um corpo pra abraçar, a falta de compaixão para com meus semelhantes, a falta de educação com a qual me habituei por medo (ou vergonha) de ser alguém mais agradável, a falta de respeito, a falta de ti que me dói o peito, a falta de ar que me dá quando te vejo, a falta de comunicação, a falta de lucidez, a falta, enfim de algo, um algo tão estranho que ninguém consegue definir com clareza, algo que tem fascinado todos através das gerações, fazendo com que busquem a resposta perdida (E que em minha não-muito-importante-barra-requerida opinião é apenas um infeliz acidente), este algo meio mistico, meio desgraçado, meio abençoado, divino, e para alguns até mesmo perfeito, que andam chamando por aí de 'vida'. E a relação que este problema de faltisse aguda tem com o problemas na 'vista', é que tudo isto, somado, às vezes me dá uma sobrecarga de H²O nos organismo, é. Aquela água com sal que sai por pequenos poros, chamados de vias lacrimais, quando nosso rosto fica vermelho e quente, ficamos com dor de cabeça, e algumas veias ficam meio rígidas, nossa boca faz involuntariamente uma curvatura para baixo, nos dando um ar daquele sentimento que chamam de tristeza. Não sei o que houve, não sei se é por que faz demasiado tempo que sofro dessa tal faltisse, mas é que a água com sal não sai mais pelo meus olhos, mesmo com todos os outros sintomas da tristeza, meus olhos ficam turvos, ardendo, secos, ásperos, e esta maldita água não se esvai, ao passo que meus olhos ficam a cada dia mais doentes.

      Kuroneko-chan
        07/08/2011