terça-feira, 20 de novembro de 2012

Onde estar.

Minha alma é naturalmente nômade
E tem a necessidade de vagar pelas frestas transcendentais da natureza
Eu não sou uma árvore.
Eu não sou uma planta.
Me deixa fluir. 
Me vem esta bolha de mediocridade,
e se fecha contra tudo.
Me puxa para um buraco.
O buraco do mundo. 
Eu não sou uma árvore.
Eu não sou uma planta.
Me deixa fluir. 
Não me prende aqui, não me abraça com tuas raízes
Cria pernas, flor, voa
Se desfaça em pólen no ar
Te espalha por todo o mundo
E vive tudo que se possa sonhar.
Tantas vidas podes ter sem sair do lugar
Vais então descobrir que podes estar em tudo, e em um mesmo lugar. 

Kuroi Kuroneko
20.11.12

Dedicatória ao âmago coração

O coração...
Não é complexo, ele é simples
Ele tem quatro cavidades.
O coração...
Bombeia o sangue para oxigenar minhas extremidades
O coração...
Manda oxigênio para o corpo
E dióxido de carbono pro pulmão
O coração...
Bate forte quando me agito, me irrito ou há excitação
O coração...
Bate fraco quando se cai num buraco, se bate a cabeça e desmaia então...
O coração...


Kuroi Kuroneko ~ 
15.05.12

HROIEHIDHASIODAIOHSDA
Isso é o que acontece quando se resolve prestar atenção nas aulas de biologia G.G 

Nos devaneios de Garloth

Minha fada, desgraçada!
Como pôde? Me matou.
Oh meu moço, que desgosto
Me perdoe, por favor.
Quero te ter assim do nada
Madrugada, sem pudor.
E toda noite, alegre e doce
te afogar em meu prazer.
Amor e ódio, dor e ócio
e no remorso irei te ver.

Quero só que tu me mate
assim como faz o caçador

Com o sangue ela me disse:
Fico triste e queimo em flor.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

As ultimas palavras de uma cabra cega

               Estou aqui nem tão sozinha, lhe escrevendo por necessidade de deixar claro os últimos acontecimentos que me ocorreram antes de meu fim iminente. Seja lá quem você for, espero que reflita sobre tudo, pois as verdades são tão claras que não vê, e isso te impede de descobrir a razão de tudo, do mundo, da vida, de tudo que há. Se é que há algo.
                Me vejo dividida em meio a um grande mar de opiniões, decisões, argumentos. O certo e o errado me rondam e tentam me enforcar com minhas palavras, mas não lembro de onde as tirei. Desde que fui pega, sou torturada por um homem que sempre sorri. Ele vem todas as manhãs na jaula em que me encontro e me maltrata, como se eu fosse podre, um lixo. Ele é doce em sua crueldade e está convencido que isso é bom, faz bem, e é o melhor. Me pergunto então, o que é tortura? Não em sua definição, mas em sua essência. Ela varia. Universalmente você deve crer veemente que é algo ruim, errado, pois causa dor, sofrimento, inocentes não o merecem, e causadores são malignos. Mas este homem sempre sorri.  Poderia, ele, fazê-lo por amor? Veja bem, aqui é um outro lugar. Poderia ele crer que isto é bom?
             Estou falando de inversão de valores. Para os Índios brasileiros, os portugueses era idiotas por quererem trocar espelhos, coisas tão magníficas, por simples árvores que crescem por toda parte, que não tem valor algum. E para os portugueses os Índios eram ingênuos por trocarem um tesouro tão grande quanto o Pau-brasil por meros pedaços de espelho. Inversão de valores. Se achavam os malandros, estavam no lucro. Poderia este homem torturador fazer coisas tais por amor? E se em sua concepção isto me faz bem? Possa ser que ele acredite que quando choro e imploro que pare, estou pedindo por mais... Por que é isso que acontece, e ele sempre sorri. E se ele pensa que estamos apaixonados, e assim que se amam as pessoas por aqui? Ele sempre sorri e diz: "Vai ficar tudo bem." - É tudo o que diz.
            Ele me olha nos olhos, e ninguém nunca me olhou. Ele me visita todos os dias, e ninguém nunca suportou conviver por tanto tempo comigo. Veja só, já risquei 421 dias na parede. Mais de um ano que me pegaram, e nunca saí desta jaula. Nunca mais vi o raiar do sol, nem senti o cheiro salgado do mar. Pode ser que eles julguem que isto faz mal, e querem meu bem. Estão cuidando de mim do jeito deles. As vezes ouço uma mulher chorar e gritar, mas não entendo o que ela diz, é uma língua que não entendo, e é bonita sua voz. Alemão talvez. Pode ser minha consciência me avisando algo que não consiga compreender. Eu nunca compreendi nada mesmo. Antes de vir parar aqui, as pessoas me evitavam, pois eu não as compreendia, não entendia os sinais, não sabia como agir, o que fazer.
              Por muito tempo odiei estar aqui, mas hoje entendo. Inversão de valores. Não me maltratam, me amam. Aqui não me evitam, eles me alimentam, me visitam, cuidam de mim. De uma forma que no lugar em que eu vivia antes, mais seria considerado desumana, cruel, degradante, absurda, insana. Mas não é isso. Sou amada, como nunca antes. E sou feliz de estar aqui. Foi bom saber que minha vida valeu a pena, todo aquele tempo me desesperando por não me enquadrar no padrão das pessoas normais. Todo aquele tempo cheio de dúvidas sobre quem eu era. Hoje sou aceita como sou.
              Então não sinta raiva quando souber que morri. Estou com infecções generalizadas pelas feridas que há muito trago. Creio estar anêmica também, pois a comida que me oferecem uma vez a cada três dias não tem muitos nutrientes. Minha vitalidade se foi, e estou sem muitas forças. Não sei quanto tempo ainda tenho. Mas só quero que pense. As verdades não são universais. A verdade, na verdade, nem se quer existe. Há mil ângulos diferentes de se enxergar, e resolver um problema. Você vive em um mundo? Acha que ele é o único? Você não vive num mundo, há um mundo em você. E o seu mundo é completamente diferente do da maioria das pessoas. Não se deixe levar pelas angústias das dúvidas universais da existência. Talvez você nem exista. Como eu, que sou apenas um amontoado de letras, que formam palavras, que formam frases, na casualidade oculta das coisas vis.

Atenciosamente, L.M.


                                                                                      Kuroi Kuroneko
                                                                                           06.11.12