sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Rain



Chove lá fora
Ela se afoga em tanta água
Que já nem sabe mais em que se perder
Mulher... Já não te disse que o futuro é perfeito tão assim
Sem saber?
Mulher... quisera eu ser assim
Tão teu
Quem dera eu ser o sol.

Sabes que teu posto está posto no desgosto
Pois só assim que gosta e que queres?
Sabes que só assim tu és tu e assim que eres
Mulher, a amargura vai passar
Mas como a correnteza vem e volta no mar,
Ela volta e voltará tantas vezes quanto tem de ser
E assim vai sendo sem saber
Aonde está, se vai chover
Se vai ficar, se vai haver
Será que há outra saida?
Meu bem, não há resposta agora
E amanhã
será que vai
Chover?

Kuroi Kuroneko
26 de agosto de 2014

Prosa



                Bem, qual é o gosto? Tem um sabor amargo. Um amargo violento e cortante, que desce destruindo tudo, desfazendo tudo, diluindo tudo. Quem dera diluísse também a alma. Sim, a alma. Essa pequena que ninguém vê, ninguém sabe, só sente. E sente mesmo, viu? Não sei quem vem primeiro, se o corpo ou a alma, mas sei quem sente mais. E se tu me dizes que a alma não existe, te digo que pode até não existir, mas existe algo que sente, e que dói e que muda e que se move aqui dentro e enquanto isso existir, de alma a chamarei. Por que se não, que seria mais? Tanto faz chamar de alma ou flor... ou até mesmo dor: a essência é a mesma, não importa o nome.
                Tem um gosto estupidamente amargo. Não que eu nunca o tenha experimentado, mas é que por um tempo foi suportável. Tinha uns cristais de açúcar pra pôr em cima de quando em vez, e assim a gente levava. A gente que agora morreu, que agora sou eu. A gente que levava embora, que lavava embora, que fingia e se ia embora. Tanto embora que já deu. E eu aqui e ali cambaleando pelas noites e estradas, que na madrugada fluía feito rio que na tempestade desagua no mar, que tanta tempestade já viu passar. Só não essa.
                Tem sabor amargo e quente. Já deveria ter me acostumado, e acho que até acostumei. Mas amargo bom mesmo só do café. Aquele café amargo que te dá vida nas ressacas, que te acorda pro trabalho, que te anima o domingo solitário. Café amargo e bom, daqueles amargos que te lembram que a vida não é doce. E não é doce não. Antes fosse.
                E então, qual é o som? É um som hilário. Um silêncio tão gritante que nos corta os ouvidos, estoura os tímpanos. É. Uma loucura que se torna melodia nas mentes sãs e que grita pra o outro dia vir tão logo quanto faz partir.
                E tu me perguntas qual é o plano. Não faço ideia, não sei não. Me acostumar com o amargo? Fingir que o som é agradável? Muito mainstream, já é bolado. Quero abrir minhas asas, dançar no salão, falar com os fantasmas, cair no chão.  Só não sei o que fazer com meus amigos Sol e Dão. 

                         Kuroi Kuroneko
 30 de Agosto de 2014