sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Viu?

Pessoa,
Se feliz quiseres ser, feliz te faço
Viu?
E se quiseres um abraço, te dou todos os braços
Viu?
E se se sufocar e quiser espaço, te dou o mundo
Tá?
E se teu dia for cinzento, te dou lápis de cor
Pra afastar tormento, te pinto toda dor
E se quiseres um amor, já tens meu coração
Se precisar de um abrigo, vem cá
Que em ti cai chuva não

Pessoa,
Não fica triste assim, olha pra mim, toma um sorriso
Coloca ele no rosto, me faz ver o paraíso
E nos teus olhos quero aquele brilho que me faz refletir
Te levo pro meu canto, quero tanto te encontrar
Pessoa, faça o que faça, só não
Me faça chorar
Por que chorando assim, como um sorriso eu vou te dar?
Que foi que a vida fez contigo?
Que foi que a vida fez contigo?
Pessoa...



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pequenas belezas

Foi acordada com um bom-dia sorridente e sua caneca favorita de café, e junto com ele, cafuné. Recebeu tudo isso com um beijo, se aconchegou um pouco mais, e se deleitou. "Pequenas belezas" era como ela chamava esses gestos, dizia que estavam a toda hora em todos os lugares do mundo: pequena beleza os raios pálidos do sol nascente, pequena beleza o sorriso de um estranho que por acaso a olhou nos olhos, pequena beleza um café feito com carinho, pequena beleza um abraço inesperado, uma mensagem no meio da noite, um recadinho na mesa, uma lembrança qualquer, há pequenas belezas em tudo, só que muitas vezes estamos tão engajados em nosso mundo mau-humorado que nos cegamos com tristezas e vazios.
Em meio aos carinhos, abraçou Morpheus novamente, e virou passarinho. A ave era amarela e trazia consigo os raios do sol, radiante por profissão, levava a luz em todos os lugares que visitava. Após uma longa viagem, repousou, por fim, na janela de uma moça o qual o quarto era azul. Azul era o quarto da moça, seus móveis, seus lençóis, suas roupas, e seu coração. Seus olhos também eram azuis, cheios de água. Ali, amarelo nada era, por conseguinte, nada radiava, nada radiante, a não ser pelo rádio azul que tocava Goodbye Blue Sky e lançava suas ondas que deslizavam pelo ambiente, até penetrar nos ouvidos da moça, fazendo seus tímpanos vibrarem e criarem uma imagem em seu cérebro e um sentimento em seu coração. O passarinho de tudo fez para ali adentrar, mas todo ato lhe era falho, e em sua agonia, despertou.
Procurou pelos carinhos que antes se faziam em sua nuca, procurou pelas pequenas belezas que antes se faziam presente, procurou por quem lhe deu bom dia, nada encontrou. Lembrou-se que sozinha estava, e que tolice aquela de pensar que poderia ter alguém ali pra trazer café na cama e afagar os cabelos. "Estão a toda hora em todo lugar" disse pra si mesma enquanto procurava uma pequena beleza qualquer pra preencher seu pequeno vazio triste e frio. Levantou-se, tomou banho, vestiu as roupas habituais, e foi trabalhar com seu sorriso meigo estampado.
"Tão radiante" - todos pensavam - "Ela deve ser muito feliz, assim eu queria ser" - e despertava uma pequena inveja dos colegas... Mas de nada adiantava se não conseguia alegrar quem mais precisa.


Kuroi Kuroneko
22 de dezembro de 2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

O dia

Hoje os raios do sol me beijaram o rosto ao me acordar
Minhas paredes desejaram coisas boas
Hoje sorri ao levantar
Já de malas prontas, vou-me embora
Pegar o trem azul, expresso pra felicidade
Mas tenho que buscar o mais importante
E ela mora do outro lado da cidade
Hoje as aves seguem cantando
O vento me esvoaça os cabelos
E tudo é belo pelo caminho no qual vou andando
Hoje os barquinhos deslizam pelas águas
Os gatinhos brincam na janela
Hoje as moças se enamoram por certos rapazes
Hoje a manhã é bela
Logo segurarei sua mão
Logo serei só dela

Kuroi kuroneko
06 de dezembro de 2015

O último abraço

Paulo tinha um segredo: Todos os dias quando ia tomar banho à noite, se olhava no espelho e começava a chorar. Via refletido no espelho a imagem do fracasso personalizado. Paulo chorava até lhe faltar ar, seus olhos ficarem vermelhos, sua pele ficar quente, sua visão ficar turva, e no chuveiro tentava parar de respirar, mas por mais que quisesse, a puxada de ar no último segundo de consciência era involuntária.
Paulo não conseguia projetar o dia de amanhã e cada momento que se seguia era incerto, como se nada existisse, como se todos os seus sentidos o enganassem e estivesse vivendo em um mundo surreal de puros delírios. Se questionava o que era verdadeiro, se estava enlouquecendo, se de fato estava vivo. E essa ansiedade o rasgava a alma, arrancava os cabelos, matava aos poucos.
É sábado a noite e Paulo se tranca no banheiro, não conteve sua água até a hora de se olhar no espelho. Paulo treme e lhe falta fôlego. Paulo sabe o que é a dor, a conhece bem de perto, ele sabe o quanto dói, e ninguém sabe disso. Ninguém consegue ouvir seus gritos ao olhar em seus olhos sedentos por salvação, e ele se afoga na água salgada de seu pequeno oceano.
Paulo sente falta dos amigos, mas nós não estamos mais em seus pesadelos, não o assombramos mais, e Paulo só quer sumir dali, de tudo. Melhor seria nunca ter nascido. A morte não o quer visitar, mas ele a tira pra dançar e nessa dança tudo se destrói. Não quer estar ali, mas Paulo não pertence a mais nenhum lugar, todos são tão diferentes, e como a Dama da Noite, Paulo está fora da roda, do parque de diversões onde todos entram e se divertem e sabem a senha pra entrar na roda, menos Paulo, que de longe observa e imagina como é ser um deles. "Sou a Dama da Noite" - ele pensa.
Esse sentimento de nada, a falta de motivos, o querer desaparecer, o tempo que não passa, as cortinas de fumaça, a maldade dos seres humanos, a injustiça com as crianças, as guerras, as mentiras e a violência, o abandono, a indecência, a rejeição, a falta de espaço. Espaço... Espaço... Paulo já não tem mais espaço, não cabe em lugar algum, e isso sufoca e aperta e machuca e sufoca e sufoca e sufoca... Não consegue respirar.
Só queria alguém pra conversar, mas foram todos embora. Seus monstros não o apavoram mais, por que já se acostumou e nada mais importa, Mas e seu futuro? E sua família? Se tudo mudar amanhã e Paulo não estiver?
Paulo brinca com navalhas que sorriem e o divertem, sem querer, se apaixonou, e permitiu que uma lhe abraçasse o pescoço.



Júlia Cordeiro
02 de Dezembro de 2015

sábado, 28 de novembro de 2015

Puta velha

Teu corpo me escuta, escultura
Ex cultura com o tempo.
Esquecido, adormecido, perdido
Nas colinas, ao vento

Teu corpo, escultura
Cultura ao relento
Me olha, me molha, me acalma
Não custa um cento.

Teu corpo, ex cultura
Me escuta os tormentos
Me abraça, me aquece
E até verdade parece
Quando geme e me chama de amor

Tua mente brilhante adormece
Tão bela adormecida
Queria te ver.
Eles usam teu corpo
Mas hoje quem me usa é você.



Kuroi Kuroneko
28 de novembro de 2015

Casulo vermelho

Minha casa já foi de ter chá
Hoje eu nem casa tenho.
Onde moro é só um lugar
Um lugar que não é meu
E nada meu tem.
Um casulo vermelho
que de outro alguém é
Alguém esse que só visita de quando em vez
Aqui é quente, mas solitário
Nem sempre tem de tudo no armário
Como os chás que já tive
E que ainda os tenho num passado
onde ninguém vive


Kuroi Kuroneko
15 de outubro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Somos todas Cleide

Quando eu te vejo na esquina
Tudo rima
Uma fila, uma fileira, uma carreira de cocaína
Clemência, Clementina
Tem dó de mim
Janaína, andrelina, betina
Carina, Carolina, Evelina
E Cleide

Vou à pé até pra China
Onde tudo rima
Por uma fila, uma fileira
de coca, de cocaína
coca-cola na esquina
Me dá o teu sorriso
Marina, Melina, Regina
Lígia
Rubina, Estelina, Valentina
E Cleide

A carne que reina na Campina
Não é de pombo, não é de ganso
É boniva
A ave que sobrevoa minha cuca e me faz sombra
não é outra
É de rapina
Faria tudo por esse mundo onde tudo rima
com coca, coca-cola
Cocaína

Me dá teu coração
Catarina, Serverina, Joaquina
E Cleide
Quando te vejo, adrenalina
Quando te beijo, morfina
Quando teu olho me ilumina
Tua risada, vitamina
E se eu te pedir em casamento hoje, imagina?
Engraçado, contigo tudo rima
Por isso mais que em cocaína
Em ti sou viciado, minha menina



Kuroi Kuroneko
19 de novembro de 2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Xarope

Moça, eu te amo aqui do chão
E adoraria visitar teu coração
Mas não sei se posso
Então invento uma desculpa pra segurar na tua mão
Visito tua casa, te levo na esquina
Passo pela praça e te trago uma comida
Quando o assunto acaba, ouço tua respiração

Anoiteceu, e tu já está de partida
E dói aqui em meu peito, que escureceu
Engasga a saudade e tudo aquilo que ensaiei dizer
Moça, não vai agora, espera um pouco
Não te demora
Do teu abraço não vou esquecer
Nem do quentinho que quando te envolvo faz meu peito arder
Teu olhar silencioso, não sei se me diz pra ir embora
Não sei se diz pra eu te levar

Queria um xarope de coragem
pra poder juntar tudo aquilo que sinto, e te falar
E se acaso me disser "não"
Tá tudo bem
Tua companhia sorridente não me é em vão
E conforta meus dias
Mesmo que eu possa apenas segurar tua mão
E na esquina te levar
 - Antes fosse ao altar -
Mas respeito e garanto teu direito de não me amar
Só me falta uma coragem que não sei se vai chegar




Kuroi Kuroneko
14 de novembro de 2015


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ela

Uma ai que vem me abraçar
Sem querer abro um sorriso quando vejo passar
E me acalmo quando me afogo no seu olhar
Uma ai, mas queria que fosse uma aqui
Que aqui tão vazio está seu lugar
mas passe o tempo que for, espero ela voltar


Mika Ela
10 de novembro de 2015

Leitura sobre o amor

Está errado estar no mesmo lado que si mesmo ao querer se encontrar?
É pesado e pro outro é indiferente ficar
O outro que nada meu é
O outro na estrada da fé
O outro que não desapareceu
O outro que não eu
O outro eu que errou o caminho e se perdeu
O outro que está na vala da vida e da morte mas se reergueu
O outro o outro o outro o outro
Sempre o outro
O inferno é o outro ser
O que não vê
O inferno não é o outro
O inferno é você
Mas deus meu, eu só quero um amor
Mas amar já tem lá seu valor
E não posso pagar
Não sei se posso e se posso não quero pagar
Pera lá!
Que pagar eu já paguei e se esse for mesmo o problema eu ando o mundo
Cato latinha
Faço casinha
de papelão
Amar e amar ja amei e de amor me alimento não sei se bem sei
Mas o preço é alto mas alto é tão baixo pra o meu amor
Meu amor
Amar machuca, e ninguém tem culpa
É por ele que a gente se arrisca se joga e se encontra se der
É com isso que a gente aprende que amar só não mata por que nos dá vida quando puder
Amor não rima com apego que apego só rima com desassossego
Amor não rima com ter, por que amor não se tem, amor se dá
Amar não é errado, seja lá como for
Amor pouco não deixa de ser amor
Amor muito não te faz vulgar
Não se tem preço que não se deva pagar pelo amor
Amor que não se ganha, amor que se dá
Por que pra o amor que se ganha preço não há
Não se tem medida pra o amor
Não se tem definição
Amor não se esquece, e se esquecido, um dia vem à tona
Amar acima de tudo a si mesmo
Que o resto vem de carona.

Kuroi Kuroneko
09 de novembro de 2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Nuvenzinha

Por onde andas, Kaju?
Cadê tu?
Hoje visitei um quartinho de meus átrios
Estava frio, friozinho
Mas não consegui te encontrar
Embora estivesse nublado
Teu nome estava escrito na parede
Por onde andas, Kaju?
Cadê tu?
Foi algo que eu disse?
Foi algo que eu fiz?
Perdoa, e seja lá o que for
Quero que fique sempre feliz
Sei que há outras nuvens
Mas fazes falta também
Amo-te por que te amo
Haja ou não outro alguém



Kuroi kuroneko
21 de setembro de 2015

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nada

Andamos no mundo e o temos
Somos toda beleza que há
Tá tudo certo e tão errado
Me perdi nos vazios de teu lado
Me deixa ficar.
Sei falar de amor sem saber amar
Também não sou ator, mas sei disfarçar
Por acaso te incomoda meu jeito
Livre e louco
Lento e souto
Misterioso e provocante
de viver e te olhar?
Posso te ensinar a correr
Posso te mostrar o lugar
Posso te levar no futuro
Posso te consertar
Posso te mostrar o caminho
Posso te fazer sangrar
Posso tanto e sou tão pouco
Não te assusta o infinito estar em tudo que há?
Sei que sorrir já pesa
É difícil de levantar
Sei que a correnteza leva
Tudo que é bom e que se pode conquistar
Mas nada.
Sabe que pode nadar.
Mais nada, sempre é nada
Mais e mais nada.
Nada não.
Ainda tenho a beleza e o mundo
Meu corpo e minha mente
Que são meus, sempre meus.
Nada não.
Que ainda assim tenho forças pra sorrir
Por todo aquele apreço que por ti carrego
Por toda beleza do mundo
que é minha
que é tua
que é nossa.
Nossa! Carregas essa imensa rocha nas costas
Por isso que tudo pra ti é mais dificil
Mais dolorido
Por vezes sangrento
Já estive na guerra
Sei como é
Sei matar
Sei morrer
Sei fugir
Não chora não
Dia desses tua rocha te esmaga no chão
E teu nada mais fácil será.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Maria de minha terra

Lá na  minha terra
A batata é doce e o osso duro de roer
A rapa é dura e a cana boa de beber
As moça tudo formosa curiano na janela
Delicada feito rosa
Bonita como  uma tela
E o farol que de longe me alumia
Respeita teu véi, Maria
Que hoje eu vou pescar
Se Iemanjá querer, trago o jantar
e amanhã quando eu voltar
Sorria, que vou te amar

Lá na minha terra
Os home são bronco e brabo
Derruba os boi pelo rabo
E nem ao Papa dá um bom-dia
Já disse a veia Maria
Num dê corda pos rapaz
Que são tudo da paz
Mas são doce que nem jegue
E nem desculpa eles pede
Quando ao coração da véia magoa
E fica se rindo a toa
quando minha Maria fica a chorar
E se quer me ver endoidar
Mecha com minha muié
Num sobra nenhum zé
E se quiser provar, experimente
Tu num diz nenhum oxente
Seja bruto com ela
Que a peixera já tá na goela
E tu está a sangrar


Kuroi Kuroneko
26 de agosto de 2015

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Essa mulher

E quem é essa mulher? 
De longe a mais pura 
Pura de coração 
De mim ela cuida 
Diz que me ama 
Traz café na cama 
Me faz carinho 
Me dá conselho 
Me ajuda na luta 
De nada tem medo 
Ela é tão pura 
Mas ainda ousam chamar o meu amor 
De puta, rapariga, quenga, vadia 
A toa, fácil, promíscua, meretriz 
Mas me diz 
Quem é que não quer ser feliz? 
Ela não dá pra qualquer um 
Dá pra quem quer 
E quem ama é livre, cuida e respeita, não é? 
Eu amo essa mulher 
Por que ela me faz feliz sem precisar de mim 
Ama si mesma
A mim
E a natureza 
Eu amo essa mulher
Disso tenho certeza


Kuroi kuroneko
14 de agosto 2015

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sorrio

Sorrio por que sou rio
Sou mar, sou correnteza
Fluo e não me prendo
Não  sou represa
Sou meu, e caço a liberdade como presa.
Sorrio porque sou rio em que navegas
Sou o mar em que exploras,
A correnteza que te leva
E tua nau por mim desliza lentamente
Vai de ponta a ponta contracorrente
Se assim eu permitir.
Me navega, me leva, me seja
Só não tente me ter como certeza
Pois de certeza, nem mesmo a morte
E se por sorte, resolvo te abrigar,
Te lembras,  navegante,  rio sou,
E a outras naus hei de levar.

Kuroi kuroneko

10 de agosto de 2015

sábado, 4 de julho de 2015

Me diz

Me diz, menina, qual é o preço
Que um ser tem que pagar
pra saber teu endereço
Tenho muito, mas vale pouco
Me diz,  menina,  se serve o meu apreço
Te peço,  me mostra tua estrada
Há tanto tempo estou sozinho
Quero alguém pra acompanhar
E  te confesso, congelei pelo caminho
Quando cruzei com teu olhar
E não se deixe enganar:
Sei que em toda rosa há espinho,
Mas até mesmo teus espinhos
São o que me fazem te amar
Não importa pra onde voas,  passarinho
É em teu ninho que me quero aconchegar
E em teu doce peito quente me aninhar
Mulher dos cabelos de mel
Em tua boca há um céu
E tuas nuvens me encantam
Teus olhos, oceanos
Ai quem me dera eu me afogar.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Inverno

Quem me dera saber tudo aquilo que não li de ti
Tudo aquilo que não ouvi de ti
Tudo aquilo que se perdeu no caminho entre Nós.
Dias frios me lembram teus abraços
Dias cinzas me mostram teus olhos
E o toque de teus lábios me traziam a mesma sensação
Que a chuva me traz quando minha pele beija.
E esses dias que vivo são tão frios,  cinzas e chove tanto
Que não há bruma nas ruas tanto quanto há em meu peito
E tudo aqui dentro está tão nublado.
Quem me dera ter as palavras certas pra te dar
Pra fazer teu mundo ensolarar
E poder mais uma vez
Estar ao pé de ti
E poder mais uma vez
Segurar em tua mão
E poder mais uma vez
Levantar-me desse chão.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Fuga

Fugindo do caos
Minha mente viaja além do fio da navalha
E a paisagem tão bela
As nuvens baixas, montanhas altas
As casinhas coloridas na beira da estrada
A natureza anda tão parada
Anda tanto e tão sem rumo
que nas cidades desaparece
E cresce o caos
Do qual eu venho
E não mais me detenho, fujo
Me curo
Não sou o caos
Nessa paisagem, sei
Eu sou rei.

Ele vem

Ele vem
Temo.
Tremo, arrumo, escondo
Limpo, esqueço, descompromisso
Ele vem
E traz com ele tantas novas histórias
Temo.
Sonho, suspiro, espero
Ele vem
Temo.
Tempo que passa e faz morrer
aqueles que já vieram,
Ele vem.
E vem pra todos
Mas não há o que
Temer

Beleza

A beleza da flor está em mim
A beleza das nuvens, do pôr-do-sol, da lua cheia
Do céu estrelado, do cheiro de chuva
Das árvores imensas, das cores, dos povos, das crenças
Das vozes, das melodias, dos rios, dos mares e de seus encontros
Das montanhas, das serras, dos campos, dos animais
Dos desenhos, das pinturas ou das artes tais
Toda beleza que há, há em mim
E há beleza em tudo aquilo que existe e que conheço
E tudo aquilo que desconheço
Nem se quer existe

kuroi kuroneko
05 de junho de 2015

Segunda

Primeiro, conto os segundos
Segundo, preferia que mil vidas tivesse
e que por mil vezes me dissesse
Que me odeia e não mais me quer ver
Do que este silêncio
Que por mil vezes me mata
A cada segundo que conto.


kuroi kuroneko
25 de maio de 2015

seca

Penso que o jardim silvestre padeceu
Foram-se as pétalas
Foi-se o aroma
O jardim secou, o jardineiro morreu
Mas descansa.
Nessa seca nada vinga não
E sei muito bem fazer chover no sertão
Mas a água é salgada
E evapora antes de beijar o chão


kuroi kuroneko

Perfeição

Que loucura a sensação de poder contemplar a ti
Os cabelos finos, tão suaves ao vento
Deslizam tão doces entre meus dedos
Os olhos que selam tu'alma e protege-a de mim
Mas que me fitam estranhamente a noite
E estranhamente a noite é bom.
Os lábios que, pelos deuses!, moviam-se e proferiam meu nome
E arrancaram-me suspiros quando moldavam tão ternos sorrisos.
Te possuir é transcender
É ser tu, o universo, o tempo, o espaço e tudo que há
E tudo aquilo que não é, mesmo sendo infindo
Não se compara ao desejo que tenho de ti.


kuroi kuroneko
Junho de 2015


És tanto

És tanto para um

Queria só
Me quebrar em milhões
Pra poder
Te apreciar tanto quanto
pode haver
beleza em teu
ser.

Éle de luar

A lua
Linda
Lembra os
lábios
Lânguidos
Que leram teus
lábios
E selaram teus
Olhos
Que logo me
Olharam
Teus olhos: Que luas!
Tão nuas
Que me eram
Sinceridade.


Falsa



kuroi kuroneko
04 de maio de 2015

domingo, 31 de maio de 2015

Cantoria de domingo

Foi num domingo que levantei, tomei banho, fiquei cheiroso
E fui todo manhoso ver os cantador cantar
Tinha pandeiro sendo embolado e tambor mei maltrado de tanto que foi batido
E eu todo iludido querendo ver ela passar
Me perdi na multidão, tantos rostos, parecia noite de são joão
E eu num canto encabulado, de braço cruzado e quieto
Não matava nem os inseto que vinha me aperriar
Os cantador nas cantoria, cantava sobre o dia a dia que se passava no sertão
Falavam do sertanejo, dos coisa linda e dos gracejo que só nosso povo conhece bem
O som se calou por um minuto e num silencio absoluto ficou todo o lugar
Depois baixim o som ficou tocano e foi quando por desengano ouvi sua voz um nome chamar
A voz tão doce dela perguntava as amigas o que se passava no lugar
"Os cantador vieram tocar, a cidade toda tá aqui, mulher, vamo dançar!"
Respondeu sua colega que, não me lembro o nome dela, mas tinha os zói da cor do mar
Gelei, fiquei nervoso, olhei pra ela e ela sorria.
Meu sinhô, me alumia e deixa ela me ver!
Foram prum canto e não pude mais ouvir sua voz,
Ô moça danada atroz, que maltrata meu coração!
Procurei ela por vista, e eis que ali na pista, meu zói se encontraro com os zói dela
Ela sorriu pra mim e eu sorri pra ela
Meus pêlo se arrupiou, meu coração tirinetou, minhas perna ficaro banguela
Olhei pro chão envergonhado, mas criei coragem de ir pro seu lado
Mas quando olhei, ela tava indo simbora
Ô moça danada, rainha da aurora!
Levasse contigo meu coração, e nunca mais no meu sertão
Vou encontrar beleza se tu num tiver.
Deixa de ser marrenta e se casa comigo muié!


  Kuroi Kuroneko
31 de Maio de 2015

segunda-feira, 4 de maio de 2015

dark room

For my whole life
I've been living
In a dark room
a dark room full of nothing
Full of living shadows.
And I'm lockdown here
Since that I remember
With my hands and arms
And legs and feet tied on the ground
I can't move
I think I don't want to
I'm scared about the view
The smell
The forms
Part of me just want to get out
But another part wants to stand down here
I pass my time here waiting
And what I'm waiting for, I have no idea
But I wait
And wait
And wait
I think I'm good with it
For my whole life
I've been living
In a dark room
And don't you dare to ask me to come outside
I've been here for too long
I'm not in a dark room
I am the dark room.


Help me.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sonhos

              Não era um dia como outro qualquer: seus olhos se encontraram. Mesmo a quilômetros de distância, seus olhos se tocaram ao olhar para as mesmas palavras. Há tempos nada compartilhavam: Nem palavras, nem abraços, nem qualquer curta distância entre seus corpos, nem pensamentos e tampouco olhares. Talvez vez ou outra respirassem o ar da mesma cidade, mas em momento algum se tocaram disso. Falaram bobagens e compartilharam sorrisos. Bobos.

               E ao chegar ao jardim ela caiu num labirinto subterrâneo e escuro, mas não gritou por socorro. Percorreu por todas as entradas que pôde entrar e corredores os quais pôde correr, até que achou uma escada, e a subiu numa espécie de sótão. Lá havia uma mesinha de madeira empoeirada, com dragões talhados em suas pernas, uma cadeira velha, e sobre a mesa havia um gato preto dormindo sobre uma almofada roxa, uma caneta-tinteiro e um bloco de anotações onde na primeira página se lia “Conte-me seus sonhos”.

                Sentada, ela toca o gato e o acaricia, mas ele não se move. Então ela pega a caneta, olha para o amontoado de papel e tenta escrever algo, mas a caneta não funciona. “Tem de pingar a pena no tinteiro” disse um corvo que estava pousado num galho que adentrava no local através de uma janela que passou despercebida pelos olhos da garota. Ela olhou para o tinteiro e molhou a pena, mas lá não havia tinta alguma, então olhou para suas mãos, que sangravam, deixou sua seiva escoar para dentro do vidrinho e então usou o liquido como corante. Pôs-se logo a desenhar as palavras no papel:

                “Meus sonhos são lindos como não se pode descrever. Seus olhos brilham mais que o grande Antares, e seus olhares... São capazes de atingir precipícios mais profundos que a Fossa das Marianas e entender perfeitamente o que se passa lá. Suas vozes, tão suaves quanto a neve limpa que beija o pico das montanhas ao amanhecer, são capazes de fazer adormecer o mais bruto dos homens. Seus sorrisos, elegantes e sugestivos, abraçam e aquecem a alma de quem os fita. Suas faces são tão pretensiosas quanto se pode ser quando assim querem, e tão angelicais quando desprovidas de outras intenções. Meus sonhos me acompanham até onde podem acompanhar, e além. Pois assim os levo: até onde quero que estejam. São meus sonhos e ninguém pode jamais tirá-los de mim. Conto-te, papel, apenas o que quero contar, pois assim sou, e saibas que não mandas em mim ou em minhas mãos, muito menos em meus pensamentos, e contente-se com a breve descrição da infinita perfeição de meus sonhos, que jamais serão sonhados por ti, ou por qualquer um que se atreva a imaginá-los enquanto lê este punhado de frases. Meus sonhos são capazes de devorar a ti e a todos e mudar tudo do jeito que eles ou eu bem entendermos. Meus sonhos são capazes de acabar com o mundo ou criar outros quaisquer. Meus sonhos são tão poderosos quanto o poder se permite existir, e estamos ligados uns aos outros mais do que os elétrons ligam-se ao núcleo dos átomos, somos mais consistentes que o mais rude dos diamantes. Somos o início de tudo, e o eterno. Somos tudo que se pode ser.”



Ela olhou para a telinha mais uma vez. Era hora de dizer adeus. E assim fizeram.


Kuroi Kuroneko

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Young, wild and free

                     Há uma imensidão de tempo em minhas mãos. Tenho todo tempo do mundo. Sei que isso passa, e aparecem muitas pedras no caminho, mas ignorar isso e acreditar que será sempre assim é mais fácil. E tenho a impressão que falar no plural mata aquela constante sensação fria de solidão que sempre me acompanhou, mas nunca demonstro, além de soar mais verdadeiro divertido, veja só:

                      "Há uma imensidão de tempo em nossas mãos. Temos todo tempo do mundo. Sabemos que isso passa, e aparecem muitas pedras no caminho, mas ignorar isso e acreditar que será sempre assim é mais fácil. E temos a impressão que falar no plural mata aquela constante sensação fria de solidão que sempre nos acompanhou, mas nunca demonstramos, além de soar mais verdadeiro divertido. 
                         Só queremos nos divertir, somos jovens, loucos e livres, não ligamos para a morte, o futuro é logo agora, e amamos o agora. Nos perdemos com a fumaça, mergulhamos em cachaça, procuramos pelo amor e nos matamos de prazer. Queremos não querer e adoramos o infinito. Ficamos tristes, mas estamos sempre celebrando, amamos a natureza, mesmo não fazendo nada para salvá-la. Pintamos nossas caras, e nossos corações. Não queremos saber delas, mas vivemos de ilusões. Vamos às ruas, fazemos farra, gritamos pelo que queremos, e o que queremos é o que importa. Até que o mundo nos pare, será sempre assim."
                         
                         Viu? 

                        Me lembro daquela noite de outubro, a fogueira queimava tanto quanto o sangue em nossas veias e a euforia em nossos átrios. Cantávamos músicas sobre como a vida é boba, e nem nos dávamos conta disso. Contávamos histórias e falávamos uns com os outros antes mesmo de aprender a falar. Viajamos para outros mundos, pegamos o táxi lunar. Só queríamos que aquilo durasse pra sempre. E durou. Dura até hoje, mesmo estando tudo acabado. 



Kuroi Kuroneko

28 de fevereiro de 2015