terça-feira, 2 de outubro de 2012

Devaneios e Esperanças #4

Garloth não conseguiu conter as represas em seu olhar, e num pulo desesperado para envolver seu corpo no corpo do moço, deixou um rio de água salgada se esvair. E aquele rio não se findava.
Sou uma fada, meu moço! - Repetia desesperadamente junto de uma tentativa falha e esperançosa de sacudir o moço para ver se alguma vida poderia se manifestar ali. - Que mal te fiz, meu moço, que mal te fiz? Que maldição se apossou de meus olhos para não te ver? Que te fiz? Que me fiz? Me perdoe. - Entre soluços, ela dizia. Seu desespero era evidente, e nos seus olhos frios e negros se via medo, tristeza, surpresa, dúvida.
E de longe leve e calmo o diabo escondia um tanto de preocupação (e por que não ciúme?) debaixo de sua cartola um tanto gasta pelo tempo. Ele não causara aquilo tudo. Sabia que era o que a diabrete queria. Mas que maldita criatura paradoxal!! Quieto ele mantinha-se, pois sabia que aquele oposto era passageiro, era apenas um devaneio estúpido de sua pequena criatura inconstante.
Desesperada ainda ela estava, e sem saber o que fazer, voou por todos os lados sem um destino certo, estava atordoada. Até que bateu a cabeça em um parede enorme, e caiu ao chão. Tonta, olhou para os lados e viu algo se aproximar e sentiu que foi carregada até que tudo mais ficou escuro.
Era apenas isso o que ela se lembrara quando acordou acorrentada numa mesa de pedra e ouvia as palavras de uma voz amarga:

Eu estava lá. Eu estava lá, e vi seus olhos vazios implorarem por socorro, ou talvez por uma fuga. É isso que sempre faz: fugir. Foges da realidade com as desculpas mais absurdas possíveis. Se fazes de propósito ou se, de fato, tens problemas irreparáveis em tuas faculdades mentais, nunca irei saber, mas teus tormentos já se fazem insuportáveis. Ao te ver, não sei se teus olhos lacrimejam por arder em loucura ou se estás mesmo a sofrer. De um coração como o teu, não sei o que esperar. Tens um coração, não tens? Tão imprevisível... Tão inconstante... Tão Afoito.... Tão ameaçador. Das duas uma: Ou é demasiada insana esta loucura que faz com que tome as atitudes mais randômicas, fale as palavras mais aleatórias e viva privando-se de culpa ou sentimentos vis, escondendo teu coração... Ou é deveras cruel e desprovida de alma e consciência para calcular tudo de forma a confundir a todos e causar o caos nas almas alheias.
Que demônio! Não se entende esta criatura! Aos nossos olhos, salvadora. Mas à nossos corações, carrasca.
E nos aflige a alma ver tal criatura sofrer... Pois sua ternura nos passa inocência, e é aí que a dúvida nos tortura: O que és? Que queres tu de nós?

~ Era o moço amargurado em seu desespero fatal.

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