quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pequenas belezas

Foi acordada com um bom-dia sorridente e sua caneca favorita de café, e junto com ele, cafuné. Recebeu tudo isso com um beijo, se aconchegou um pouco mais, e se deleitou. "Pequenas belezas" era como ela chamava esses gestos, dizia que estavam a toda hora em todos os lugares do mundo: pequena beleza os raios pálidos do sol nascente, pequena beleza o sorriso de um estranho que por acaso a olhou nos olhos, pequena beleza um café feito com carinho, pequena beleza um abraço inesperado, uma mensagem no meio da noite, um recadinho na mesa, uma lembrança qualquer, há pequenas belezas em tudo, só que muitas vezes estamos tão engajados em nosso mundo mau-humorado que nos cegamos com tristezas e vazios.
Em meio aos carinhos, abraçou Morpheus novamente, e virou passarinho. A ave era amarela e trazia consigo os raios do sol, radiante por profissão, levava a luz em todos os lugares que visitava. Após uma longa viagem, repousou, por fim, na janela de uma moça o qual o quarto era azul. Azul era o quarto da moça, seus móveis, seus lençóis, suas roupas, e seu coração. Seus olhos também eram azuis, cheios de água. Ali, amarelo nada era, por conseguinte, nada radiava, nada radiante, a não ser pelo rádio azul que tocava Goodbye Blue Sky e lançava suas ondas que deslizavam pelo ambiente, até penetrar nos ouvidos da moça, fazendo seus tímpanos vibrarem e criarem uma imagem em seu cérebro e um sentimento em seu coração. O passarinho de tudo fez para ali adentrar, mas todo ato lhe era falho, e em sua agonia, despertou.
Procurou pelos carinhos que antes se faziam em sua nuca, procurou pelas pequenas belezas que antes se faziam presente, procurou por quem lhe deu bom dia, nada encontrou. Lembrou-se que sozinha estava, e que tolice aquela de pensar que poderia ter alguém ali pra trazer café na cama e afagar os cabelos. "Estão a toda hora em todo lugar" disse pra si mesma enquanto procurava uma pequena beleza qualquer pra preencher seu pequeno vazio triste e frio. Levantou-se, tomou banho, vestiu as roupas habituais, e foi trabalhar com seu sorriso meigo estampado.
"Tão radiante" - todos pensavam - "Ela deve ser muito feliz, assim eu queria ser" - e despertava uma pequena inveja dos colegas... Mas de nada adiantava se não conseguia alegrar quem mais precisa.


Kuroi Kuroneko
22 de dezembro de 2015

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