sábado, 18 de junho de 2011

heart.

É um dia em que não há muito a se fazer. Acordo-me cedo, como de costume, e fico na cama a esperar que alguém venha me chamar para tomar café com um beijo e um abraço de bom-dia. Espera esta que me consome, e por mais que eu tente não esperar, ela não se vai, mesmo sabendo que não há ninguém ali para me fazer essas coisas. Fico deitado até tarde, pois não há nada que me motive a levantar, até o momento em que o tédio me toma os nervos, e me deparo com pensamentos absurdos. Dou uma volta pelos cômodos e verifico se de fato estou só. Sim, estou. Dou uma olhada no relógio: 11h27, é não adianta tomar café essa hora, inclusive estou sem fome, deixa pra lá. Tenho coisas para fazer, mas as faço depois, só há isso pra fazer e tenho o dia todo. Mas não tenho mais nada para fazer, sento-me no sofá e olho para o nada, como se alguém estivesse ali. De fato há alguém ali, um ser imaginário, um alguém que pode me ouvir, que quer me ouvir, um ser meu, um eu. Começo o desabafo:
  - “É ela, é ela a culpada de tudo isto. É ela quem me deixa neste estado, ela que poderia me salvar, mas não o faz. Por quê? Por quê? Ah, maldita. Oh, como eu a amo, a amo mais que a mim, a amo mais que o ócio, a amo mais que as sextas-feiras de beberrão, a amo mais que carne fresca acompanhada de litros de whisky, o meu amor por ela é tão maior quanto a minha aversão pela humanidade, é bem maior do que qualquer coisa que se possa medir. Apenas ela pode me salvar, mas não o faz. Não por não poder, mas porque é tão má e cruel, que prefere me deixar desse jeito. Apenas porque não quer.”
 O nada me fita, como de estivesse errado. Sim, estou. É a mais pura loucura desabafar para o nada, e crer que o mesmo esteja me olhando. Faz um belo dia, ensolarado, mas não é aquele sol irritante que te queima a pele ao menor tempo que esteja exposto à ele, é aquele sol ameno, com algumas nuvens e um vento aconchegante, perfeito para  ir a praia, olhar o mar. Mas não o faço, mesmo estando praticamente de frente para o mar, não vou. Não há com quem ir, não há por que ir, e ir não muda em nada o que eu sinto. E o que eu sinto? Um tão grande e absurdo nada. Um nada tão gigantesco quanto o universo e mais: tão gigantesco quanto o universo dos universos, com um buraco negro bem no centro. Não sei por que sou assim, mas não me lembro de sentir outra coisa se não esse nada, não me lembro de sentir nem ao menos uma vontade de saber o porque... Enquanto lá fora o sol brilha e todos estão felizes, aqui dentro é frio e tudo me parece sutilmente sombrio. As paredes continuam me fitando de forma ameaçadora, como se fossem me engolir, a solidão que me cerca, me sufoca também, e estou a me afogar em pensamentos vis. Então alguém bate a porta. Maldição! Mais do que estar só, odeio estar acompanhado, até mesmo se for ela,odeio, odeio! Deixem-me em paz! Vão incomodar a desgraça doutro! – estes foram os meus pensamentos em tal momento, mas não condisseram com minha atitude solene de abrir a porta educadamente. Sim, era ela. Havia tanto para ser ouvido, havia tanto para ser dito. Mas tanto que nunca fora ouvido e tampouco mencionado.

                                                               Kuroneko-chan, 18 de junho de 2011

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