quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ouro

               Ela andava de um lado para o outro. Embora aparentando pressa, não sabia para onde ir, só sabia que queria ir para longe... Bem longe, outro mundo, se possível. O sol brilhava forte, e a beleza do lugar incomodava, pois por dentro - pensava ela - onde mais preciso, não há beleza alguma. Estava cansada daquilo tudo: Traição, utopias, indiferença, humilhação, ignorância, falta de pudor. Seu coração (se é que ainda o tinha), estava oco e frio, como uma geleira à deriva no meio do oceano.
              Andava e andava, ziguezagueando no meio da multidão de sombras. Via aqui e ali algumas faces conhecidas, e as cumprimentava numa tentativa falha de se distrair. Eles não percebiam seu semblante melancólico que suplicava ajuda, ou algo assim... Um sinal, talvez. Sua cabeça doía, e a medida que seus pés rápidos iam no encontro brusco com o chão, sua respiração ficava mais ofegante, e seu suor, frio.
              De repente ela ouviu seu nome ser chamado. Me encontraram, ela pensou. Seu coração aos poucos se recompunha, e tentava bater forte. Estava prestes a explodir, ela tremia. Foi em direção ao chamado, sorriu. Pediram-lhe um favor - Que assim seja - ela disse, e o cumpriu. Ficou ali sentada, sozinha na cadeira cinza sob a escada. Seus olhos estavam vazios, fitando algum lugar igualmente vazio, distante. Uma alma apareceu, logo, duas. Aqueceram-lhe o colo, mas sentia-se incompleta, como se desaparecesse aos poucos.
            Ao cumprir sua tarefa, retomou a atividade de andar em círculos, desta vez, sem esperar que a encontrassem... Procurava algo,  não sabia o quê, talvez conforto. Mas no caminho se distraiu com algum tipo de flor. "Quero vê-la desabrochar, só me retiro daqui depois disso!" - Pensou ela. Por um momento esqueceu da beleza do lugar, e da falta dela dentro de si. Esqueceu do frio, de sua busca, e até mesmo do que queria esquecer. Uma ave então pousou ao seu lado. Uma ave grande, esbelta, e de um rubro flamejante, que a olhou e assobiou alguma melodia. Eles se olharam, a ave continuou a assobiar, ela corou. De repente, na nota mais alta, a ave ergueu voo. Era isto que ela queria, mesmo sem querer. E então voaram juntos.

                                                    Kuroi Kuroneko
                                                        23.02.12

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