sábado, 23 de junho de 2012

Indireta

Sozinho e solene, com um cigarro largado no canto da boca e uma garrafa de gim, sentado na parte mais escura e, talvez até, esquecida de um bar, um escritor obsessivo-compulsivo viciado em jogatinas muito talentoso ou deveras sortudo que ganhava a vida apostando o pouco que tinha e que aparentemente nunca perdia, ganhando muito dinheiro mas sempre gastando tudo que podia (ou não) com suas depravações e desejos insanos, observava a gritaria e agitação do outro lado do bar. Seu rosto à meia luz não dava para ser identificado, mas seu ar sombrio e sério formava quase que uma áurea ao seu redor.

Perto do balcão, sentada num dos bancos giratórios que faziam o charme de qualquer pub noir que se preze, uma loira levava um cigarro caro entre os lábios carmesim. Dois sujeitos bem-vestidos e bem desprezíveis, tão comuns e cotidianos em suas mesmíssimas formas de cortejar, fizeram a finura de levar um isqueiro aceso à disposição dela. Ela apenas sorriu pra eles e desviou o olhar.

O Barman levou o pedido de sempre dela e deixou no balcão. Scotch on the rocks. Melissa estava cansada, entediada e prestes a cometer alguma loucura, por mais bizarra que fosse, só pra se livrar do enfado que se apossara de sua alma desde que adquirira sua tão sonhada "liberdade financeira". Passando os olhos amendoados por todo o pub, notou o excêntrico escritor e ficou perigosamente interessada. Mulheres são estranhas.

Melissa se aproximou do escritor. Parou à sua frente, e o analisou de cima à baixo.Ele sorriu malicioso - sempre usava esse sorriso quando via mulheres bonitas de perto. Se ela fosse o tipo tímido e sem graça que se ofende fácil, aquele sorriso seria o bastante pra incomodá-la a ponto de fazê-la querer ir embora. E se fosse do tipo difícil - como são as mulheres interessantes - ela provavelmente sentaria sem nem pedir licença. E assim ela fez. Não só não pediu licença para se sentar, como pegou a garrafa de gim e tomou três belos goles, o suficiente pra deixar qualquer garota meio tonta. Mas ela não era uma garota, muito menos qualquer. Ela retribuiu o sorriso, e ficou ali o encarando, como se esperasse uma reação qualquer. Fato que não ocorreu, e a suposta falta de interesse do escritor criou nela uma potencialização de seu interesse. Pessoas são estranhas.

- Olá garotão, qual é o seu nome?
- Eu não tenho nome.
- Como não? Todos têm nomes. O meu, por exemplo, é Katherine. - Como toda mulher esperta, ela mentiu seu nome.
- Olá Katherine. Eu não me incluo no conjunto 'Todos'.
- Hmmm, então como poderia te chamar?
- Não me chame. - Ele continuou com um olhar distante, e agia como se não a quisesse ali, mas sabia muito bem o que estava fazendo.
Melissa sorriu. - Já ouviu falar na "Dama da Noite", garoto? Dizem que foi escrito pra mim. Mas duvido que aquele viado escrevesse algo pra mim, aquele bicha estava falando mesmo sobre ele, se imaginando vestido de mulher pelos bares, dando pra qualquer homem.
- Fala daquele escritor famoso?
- É ele mesmo. Eu amei aquele puto minha vida inteira, mas ele gosta é de outra coisa. A maior decepção da minha vida.
- Então você é a Dama da noite?
- Não. Ele é. Já disse.
- Disse o que?
- Não sou a Dama dele.
- E quem é?
- Ele.
- De quem?
- Da noite.
- E você?
- Não sou a Dama dele!
- Pode ser.
- Ser o que?
- A Dama.
- De quem?
- Minha.

Kuroi Kuroneko
23.06.12


Tinlin linlin ~~~Coraboração : Fakemaker lanananana ♪
HEOIHEOIEHOIEHOIEEHEH


P.S : Me inspirei no seulindo do Caio F. Abreu ;9





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