sábado, 23 de junho de 2012

Devaneios e esperanças #2

            E aparece o diabo de cartola e guarda-chuva, com sua gravata borboleta e seus trejeitos aristocráticos, apesar de inquestionavelmente errados, de alguma forma especificamente psicológica. Vinha com os olhos tão vermelhos ocultos detrás de lentes redondas de preto opaco, vedando-lhe o semblante e boa parte da sua percepção. Apesar disso, o sorriso era inquestionavelmente largo e soberbo. Cochichou no ouvido dela algumas sugestões luxurentas, apenas para aquecê-la em sua fria contenda interna. Qualquer coisa para lembrá-la de que havia algo pra se preocupar lá fora, chamando atenção das duas que se digladiavam inerentes: a criadora de sonhos e a destruidora de sonhos. Aspectos das duas chamavam a atenção dele - e ele era feliz, porque elas eram uma só.
           A criatura deu risadas maléficas que pareciam não se findar, as quais assustaramm o moço, que não pode ver o diabo. Ele é só um moço. A criatura por sua vez dá as mãos ao diabo, e começam a dançar uma valsa macabra pelas ruas da cidade, derramando sangue e tormento por onde passavam. A cólera logo tomou conta de todos, que se corroiam e se desfaziam em um algo podre, mais podre até do que já eram. A criatura olhava bem nos olhos do diabo, a pesar de só ver um reflexo meio fosco e um vazio inigualável, ela o olhava nos olhos e se ria. O diabo a observava e sentia prazer em ouvir as risadas. Era algo que não havia acontecido nunca antes: Ele se apaixonara.




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