quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gloomy Sunday (interminado)



Malditos domingos, eu odeio eles... O domingo é como uma grande madrugada que começa no sábado e só termina na segunda de manhã, onde todos que você conhece estão dormindo ou procurando algo legal pra fazer - mas nunca fazem nada legal – e você tenta ligar pra alguém, ou fazer qualquer coisa, mas ninguém te atende. Ou te chamam pra fazer algo, mas você está com uma ressaca dos infernos, e você que prefere nem atender ao telefone.  Neste domingo, em especial, eu estou com a pior ressaca da minha vida, que caso eu comece a descrever faltariam paginas, e você começaria a sentir os mesmos sintomas, então  melhor nem pensar... São 11:30 da manhã, eu fiquei alguns minutos na cama, depois fui lavar o rosto, e isso foi a primeira merda que fiz hoje: levantar da cama. Senti nojo ao ver meu reflexo no espelho. Eu nem estou tão feia assim, mas só de pensar no que eu tenho feito, no que talvez eu tenha feito, como cheguei em casa, como cheguei a esse estado, tudo isso me embrulha o estomago. Estou no fundo do poço, e pedindo que me joguem uma pá para cavar mais fundo ainda. Além desse nojo percebo quanto tempo perdi, quanta coisa deixei de fazer. Olhe pra mim agora, veja aonde cheguei. Fiz tudo que tive vontade, na hora que tive vontade, mas tudo que ganhei foram felicidades passageiras, e rugas que não vão embora nunca mais. A campainha toca... – “QUE ÉÉÉÉ?” – grito como se meu pior inimigo tivesse cutucado minha alma com uma navalha, não ouço resposta, então desço à porta para ver quem ousa perturbar minha desgraça. É uma garotinha, com uma face delicada, lindos cabelos dourados, que formam cachos simetricamente perfeitos, enormes olhos claros que brilhavam como a lua cheia em noites de verão, uma pele aveludada e uma voz suave e infantil – “Bom dia moça!” – ela sorriu – “Gostaria de ajudar o lar dos idosos comprando uma caixa de biscoitos?”- perguntou com entusiasmo. Assusta-me tamanho entusiasmo dessas crianças de hoje, de onde tiram tanta alegria? Se fosse o contrario, e eu que estivesse a bater na porta de uma mulher com uma cara horrível de poucos amigos (talvez nenhum), como a que se encontrava cravada na frente de minha cabeça, eu sairia correndo com medo. – “Não, não quero. Esses biscoitos engordam, são cheios de gordura, e tantos ingredientes que nem sei de onde vem!”- falei sem pensar muito, mas não me importo. – “São para o lar dos idosos, compre a penas um, e dê para quem passa fome, assim você fará duas boas ações neste domingo tão maravilhoso!”- Ela continuou com o sorriso no rosto. -“E estes velhos comem os biscoitos? Se sim uma boa ação já seria parar de dar, esses biscoitos fazem mal ao fígado, ao coração... E este domingo de maravilhoso não tem nada!”- Continuei, sem pensar.  Em segundos o sorriso deu lugar à lagrimas, ela jogou as caixinhas de biscoito no chão, abaixou a cabeça e disse: -“Você está mentindo! Estes biscoitos não fazem mal, e este domingo está maravilhoso, pois eu que ajudei meus avós a fazer os biscoitos hoje!”- e saiu correndo, deixando as caixas ali. Pego as caixas e coloco no armário – “Se realmente quisesse ajudar os velhos não deixaria aqui. Se quiser de volta, que venha buscar.”- pensei brevemente. Vou para cozinha, faço um café. Maldito café, frio e amargo! Maldito domingo! Quero algo para comer, maldito pão! Está duro e dormido. Malditos biscoitos! Amoleceram. Maldita ressaca! Tudo está amargando. Maldito domingo!
Pego meu café, sento na varanda, acendo um cigarro, e fico olhando o mar. Preciso me acalmar, preciso encontrar uma direção. Aquela garotinha não me sai da cabeça, porque tive que ser tão cruel? É algo que não sai de mim. Até que pensando bem o dia nem está tão horrível, ou melhor, está horrível porque eu quero que esteja, porque eu o fiz assim. Já percebeste que somos artistas? Sim, somos escritores, pintores, diretores. Tudo isto. Pintamos nossas vidas da forma que queremos. Às vezes acontece de nossos pincéis estarem gastos demais, ou nossas tintas vencidas, e assim, a pintura não fica tão bela. Mas quem disse que só é arte o que é belo e bom, está errado. Caso não goste da tua pintura, podes pintar outro quadro, esse é o lado bom. Tens liberdade de pintar o que quiseres e como quiseres. Você pode ser verde, azul, rosa, laranja, multicor... Podes ser redondo, quadrado, oval...  O problema é que és cego, somos cegos. E não confiamos em nossa intuição, preferimos ouvir o outro dizer se a pintura está ficando bonita, no lugar de imaginar a pintura e se deixar levar pela intuição. Não faça isso, ouça o mar... se solte, e pinte o que imaginar. Jogo meus cigarros fora.  O sol está queimando minha pele,  o vendo está me deixado atordoada. Isso tudo me enjoa. Tomo a liberdade de experimentar aqueles biscoitos, e até que não são ruins. Que garotinha talentosa. Resolvo ir no lar dos idosos, vou pagar pelos biscoitos. Pobre garota. Por um momento me esqueci que já fui criança. Por um momento me esqueci que já tive sonhos. Esqueci, eu esqueci. 

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